Ele confunde caqui com tomate, encalacrou-se ao tentar preparar um molho que acabou ficando doce, não sabe fritar um ovo sequer e não toma cerveja por não apreciar o gosto amargo.
Mesmo com essa inapetência nas panelas, nos comes e nos bebes, o publicitário Rafael Mantesso, de 30 anos, é um nome bastante conhecido nos meios gastronômicos. Sem publicar nenhuma receita, seu blog Marketing na Cozinha é um dos mais visitados do país na área – são 30.000 acessos diários.
No Facebook, ele soma a invejável marca de 67.000 seguidores, que curtem e replicam frases como “Porco, a melhor salada” e “Você que não come fígado… Só lamento”. Fotos engraçadinhas de frutas e legumes fazendo caretas também ajudaram a torná-lo popular.
Longe de ser unanimidade, ele faz o tipo falastrão e distribui diatribes culinárias. Fala mal de comida de shopping e dos peixes vendidos nos restaurantes de BH. Comer quieto não é seu forte: costuma escrever impropérios dirigidos a vegetarianos e a quem, nas suas palavras, “afrescalha” a gastronomia. “Toalha de mesa e piano de cauda são coisas do passado”, diz ele. Arrepia-se só de ouvir expressões como retrogosto, cozinha molecular e fundo de boca.
“Além de extremamente engraçado, o Rafael tem grandes ideias e consegue reverter situações pelo lado do humor”, avalia a empresária Carolina Andrade, dona das casas Ah! Bon, Speciali Pizza Bar e Eddie Fine Burguers, que o ajudou a conseguir seu primeiro emprego em Belo Horizonte. Ele morava no Rio de Janeiro, mas a fama de conservadorismo daqui não o amedrontou. “Não acho que o belo-horizontino seja conservador. Isso é uma bobeirinha que alguém falou e todo mundo repete.” A falta de papas na língua ganha coro até na Belo Comidaria, no São Pedro, restaurante que ele mantém com dois sócios. Lá, esse papo de que o cliente tem sempre razão não cola. Já houve quem reclamasse da trilha sonora, ligada constantemente no folk. “Não vou ter self-service, participar de Restaurant Week nem colocar Beyoncé para tocar aqui”, alfineta, para em seguida pisar no freio com a acidez. “Faço piada o dia inteiro, mas tenho de achar um meio-termo para não perder cliente.”
A verve cômica veio da infância passada em Carangola, no interior do estado. Orelhudo, vesgo e estrábico, Mantesso encontrou sua salvação ao fazer piada de si mesmo. “Como eu era uma chacota ambulante, essa era uma questão de sobrevivência na escola.” E foi graças a esse azedume que o publicitário passou a ter entre seus seguidores gente famosa, como o artista plástico Vik Muniz e Alex Atala, o mais afamado chef brasileiro. Atala acabou virando amigo e, mais recentemente, o chamou para ser sócio no instituto ATÁ, criado para divulgar a gastronomia brasileira e seus pequenos produtores. “Nós nos conhecemos pelo Instagram, e foi amor à primeira vista”, diz Mantesso. “Ele é uma das personalidades mais interessantes das redes sociais. Tem humor ácido, cortante, carregado de objetividade e poder de síntese”, afirma Atala. Imerso nessa rasgação de seda gourmet, e com a ajuda de piadinhas como as publicadas na página ao lado, esse tipo tatuado, barbudo e com cara de nerd vem colecionando fãs – e polêmicas – na internet. Com informações VejaBH.
Por: Click Carangola | Sugestões de pauta: clickcarangola@gmail.com