O município de Carangola absorve sozinho uma dívida que ultrapassa R$ 11 milhões, nos dois maiores hospitais da cidade. Somados, eles oferecem 226 leitos, dos quais 90% atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, isso não parece comover os governos Federal e Estadual.
As duas unidades sofrem com atrasos nos repasses e só conseguem manter os atendimentos através de recorrentes empréstimos. Como consequências dos novos financiamentos, são contraídas ainda mais dívidas.
A Casa de Caridade de Carangola (CCC) é dona da maior dívida acumulada por um hospital na região. Atualmente, a unidade possui um débito superior a R$ 7 milhões. A situação que enfrenta para manter seus 170 leitos é complexa. O hospital reclama dos atrasos nas verbas do Estado e precisa recorrer a instituições financeiras particulares para tentar quitar os débitos. O resultado disso são ainda mais dívidas.
De acordo com o administrador da CCC, Francisco Sangy Filho, a origem da dívida é diversificada e afeta custeio e investimento em infraestrutura. “Só para dar um exemplo, nos últimos anos investimos, com recurso próprio, em carrinhos de anestesia, hemodinâmica, mamógrafo, aparelho de raio-X portátil, ressonância magnética, cintilografia, entre outros aparelhos. Sempre foi através de empréstimos em instituições financeiras”, explicou.
Sangy afirmou que a dificuldade financeira ainda não está afetando os atendimentos, mas para isso é preciso fazer muita conta. “Para custeio, sempre estamos buscando empréstimos. Precisamos fazer isso para pagar o 13º salário, por exemplo. Por causa do atraso dos repasses, também pegamos empréstimos. Isso também acontece para podermos cumprir os nossos compromissos com os fornecedores, para não deixarmos faltar materiais e medicamentos e para o pagamento de todos os encargos”, disse.
O problema com os empréstimos é que as instituições financeiras aplicam juros altos, o que aumenta ainda mais a dívida. “Tanto o Governo Federal como o Estadual já estão regularizando os pagamentos e isso está diminuindo os atrasos, mas ainda temos cerca de R$ 500 mil para receber do Estado, referentes aos serviços prestados ainda no ano de 2014”, concluiu.
A exatamente 1 km dali, o Hospital Evangélico de Carangola acumulou R$ 4 milhões em dívidas para manter seus 56 leitos. Segundo o provedor da unidade, Marcio Oliveiros Costa, a dívida, que vem se somando há quase uma década, guarda um agravante.
A cidade fica na divisa entre três estados: Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Com isso, a população do interior desses locais se desloca para a cidade mineira em busca de atendimentos hospitalares. “São cidades que não fazem parte da nossa microrregião, portanto, esses pacientes não são computados nas estatísticas que o Estado usa para calcular a liberação de verbas”, explicou.
Como todos os gestores de hospitais, Costa reclama do atraso no rapasse das verbas pelo Estado. “Eles (Governo Estadual) estão atrasando muito. Em 2014, por exemplo, não recebemos verbas em outubro, novembro e dezembro. Quando o Estado depositou o dinheiro, já no início de 2015, ele já não valia nada, porque as dívidas que nós contraímos para nos manter nos últimos três meses o consumiram”, contou.
O provedor cobrou que a divisão de verbas seja repensada pela Secretaria de Saúde, para que nenhuma entidade receba valores desproporcionais aos atendimentos que presta. “O Estado aloca a grande maioria dos recursos em uma única instituição. Não estamos questionando o trabalho de outros hospitais, que é humano e excelente, mas é preciso que a divisão seja igualitária e favoreça a todos”, solicitou.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) informou que os dois hospitais de Carangola são beneficiados pelo Programa de Fortalecimento Hospitalar (Pro-Hosp) desde 2006/2007.
Em 2014, a Casa de Caridade de Carangola recebeu R$ 1.489.107,53 referentes ao programa. Para 2015, de acordo com a resolução SES/MG nº 4.746, de 16 de abril, o valor previsto é de R$ 1.019.836,63. A SES ressaltou que o comando de pagamento referente à primeira parcela, no valor de R$ 509.918,31, já foi efetuado.
Já para o Hospital Evangélico de Carangola, o valor previsto para 2015 é o mesmo da CCC. De acordo com a SES, R$ 1.019.836,63. Neste caso, não foi informado se parte do valor ou todo o repasse foi ou não depositado.
Por: Click Carangola | Com informações do G1.
O pior é que realmente não temos como saber o que é feito do dinheiro público repassado as instituições!