José e Odila, ambos com 98 anos, brindam os 75 anos de casados. Da época em que as pessoas colavam cacos e não jogavam as coisas fora, Odila conta que só tem um segredo para tanta felicidade com o amor: “Nunca procure saber o que o seu marido fez fora de casa. Foi o conselho da minha mãe no dia do meu casamento”, lembra a escrevente e professora aposentada Odila de Castro Alves, que, em 9 de janeiro de 1941, jurou amor eterno ao tabelião José Justiniano Alves.
Para o casal, parece que tudo começou ontem. José diz viver uma eterna lua de mel. Conta que teve que esperar pelo primeiro beijo até depois do casamento, que o máximo de contato que podia ter com a sua amada antes era o toque de mãos. Mas, desde o sim no altar da igreja, têm sido pelo menos cinco beijos por dia.
O casal, que atualmente mora no Bairro Santo Antônio, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, sempre comemorou todas as bodas de casamento. Quando fizeram botas de prata, de 25 anos de união, o filho mais velho se casou e, desde então, a alegria é em dobro. Pais e filho passaram a festejar juntos as datas. No caso de José e Odila, eles já passaram pelas bodas de ouro, de 50 anos, de diamante, de 60 anos, e em janeiro celebraram as bodas de brilhante.
Os olhos de José e Odila ainda têm o brilho de quando se conheceram. Ela morava com a família em Espera Feliz, Zona da Mata, e ele chegou à cidade vindo de Carangola para trabalhar como funcionário público na Coletora Estadual, órgão que recolhia impostos na época. Foi em 1939.
“Não tinha bar, nem lanchonete, não tinha nada na cidade de Espera Feliz. Os funcionários públicos iam tomar café na casa do meu pai, que era farmacêutico e tabelião. Iam o gerente do banco, o fiscal, todo mundo ia tomar café”, lembra Odila. E, com o convívio, o casal se apaixonou. “Cheguei à casa dela, ela jogou o laço e eu puxei”, brinca José Justiniano. O namoro aconteceu, mas daquele jeito, à moda antiga, sempre com o pai dela vigiando.
Em 9 de janeiro de 1941, os dois tinham 23 anos e se casaram. O pai de Odila aproveitou a data e casou outros dois filhos. “Um casamento triplo. Eu, meu irmão e minha irmã. Foi uma festa só para a família, mas foi um festão. Foi gente de Juiz de Fora, do Rio de Janeiro, Vitória e várias outras cidades”, lembra Odila. Depois, um irmão dele se casou com uma irmã dela, unindo ainda mais os laços entre as duas famílias.
Casados, José e Odila foram morar em Carangola, onde permaneceram por apenas quatro meses e voltaram para Espera Feliz. O pai de Odila morreu e José Justiniano comprou o cartório e a casa do sogro e “adotou” a sogra e quatro cunhados, a mais nova com 12 anos na época, criados como filhos. Em 1955, o casal voltou a morar em Carangola, onde dois dos três filhos que tiveram estudavam em internato.
Odila se emociona quando fala da sua mãe, que sempre lhe dava conselhos e que foi exemplo para seu casamento feliz. “Era uma mulher muito alegre e tocava piano. Era protestante, depois passou a ser espírita e tocava na igreja católica. Quando ela morreu, os padres tocaram os sinos da igreja o dia inteiro”, lembra a aposentada. E o conselho da mãe, de nunca procurar saber o que o marido fez fora de casa, deu certo, segundo ela. “Se ele fez alguma coisa, nunca fiquei sabendo. Nunca tivemos uma briga. Ele sempre foi um bom marido, um amigo e companheiro para tudo, até hoje”, disse Odila.
Família grande
Ao longo do tempo, a família só aumentou. Três irmãos de José conseguiram emprego em Espera Feliz e foram morar com eles, em épocas distintas. A casa sempre esteva cheia. Hoje, para completar a alegria, José e Odila têm três filhos, Aloísio, de 74, Marilze, de 72, e Erênio, de 63, 10 netos e 10 bisnetos, “todos formados”, ressalta a avó. “Meus netos têm duas ou três formaturas, muitos com doutorado”, se orgulha a professora aposentada.
Odila se gaba de sua família ser sempre unida. “Nunca teve briga”, disse. Ela se lembra com entusiasmo da comemoração do aniversário de 80 anos dela e do marido. “A gente empatou até na idade”, brinca José. Na época, os dois fizeram uma viagem aos Estados Unidos. Odila lembra que foram a um evento e o bilheteiro, ao saber do aniversário deles, se recusou a cobrar as entradas. “Disse que era um orgulho um casal sair do seu país para comemorar 80 anos no país dele”, lembra a aposentada.
“Nunca fomos ricos, mas nunca faltou nada. Sempre tivemos tudo, muita felicidade. A gente trabalhava muito, mas viajava muito também. A gente passava um mês inteiro no Rio de Janeiro. Minha mãe cuidava da casa e do cartório. Na época, eu era diretora do grupo escolar”, recorda Odila.
Ela lembra que viu surgir os primeiros automóveis na sua cidade, a televisão e o rádio. José conta que, quando jovem, morava em Divino, distrito de Carangola, e viajava o dia todo a cavalo para ouvir rádio na sede do município. Só havia sinal de rádio à meia-noite e, depois, ele fazia o trajeto de volta para casa. Odila diz que, quando os primeiros automóveis passavam na estrada, os bois saíram correndo.
Por: Click Carangola | Com informações do jornal Estado de Minas.