Realeza virou uma praça de guerra durante manifestação de cafeicultores

Realeza se transformou em uma verdadeira praça de guerra no final da tarde desta segunda-feira (08), para a retirada dos manifestantes que haviam paralisado as rodovias BR-262 e BR-116 em protesto pelos baixos preços do café.

Ao contrário do que aconteceu na segunda-feira (01), em que os manifestantes paralisaram as duas estradas federais por seis horas, nesta nova paralisação os organizadores pretendiam protestar por tempo indeterminado, ou até que um representante do Governo Federal viesse até ao local para receber a pauta de reivindicações.

Por volta das 16h30, quatro helicópteros da Superintendência da Polícia Rodoviária Federal (SPRF) de Minas Gerais pousaram no pátio de uma parada de ônibus próximo ao trevo para que descessem homens da tropa de choque da PRF para dispersar os manifestantes. Alinhados e contando com o apoio de um grande efetivo da Polícia Militar, além de diversos agentes da própria PRF, eles lançaram bombas de efeito moral, gás lacrimogênio e gás pimenta, dispersando todos os manifestantes em questão de minutos.

Assim que a multidão foi dispersa, soldados do Corpo de Bombeiros, auxiliados por policiais militares e utilizando também uma máquina carregadeira que foi requisitada pelas autoridades, começaram a limpar a pista. A partir das 17h30 o trânsito começou a ser liberado em todos os sentidos das duas rodovias, colocando fim a uma paralisação de oito horas das duas estradas.

Apesar da aparente violência presenciada com esta operação, em uma cena jamais presenciada em nossa região, a contabilização por parte das autoridades não apontou nenhum manifestante ferido.

“Infelizmente nós não queríamos chegar a este ponto, mas é o dever do Estado e nós não podemos permitir que forças de ilegalidade permaneçam. As pistas foram liberadas, as pessoas estão indo para as suas casas e não há nenhuma informação de feridos. Mas não era desta forma que nós gostaríamos que tivesse acontecido. Nós gostaríamos que tivesse ficado da forma que tinha sido combinado na parte da manhã, sem paralisação. Nós tivemos a paciência desde as 13h30 até este momento, mesmo com eles em situação de ilegalidade na pista, nós ainda tentamos que eles entrassem em um acordo e retirassem o que eles colocaram como barreira nas pistas, não sendo possível. Só foi possível com a chegada do grupo da tropa de choque da PRF, que chegou em aeronaves vindas de Belo Horizonte, com a Polícia Militar dando apoio à PRF para que fosse restabelecida a ordem na localidade”, relatou o comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar, Tenente-Coronel Wanderson Santiago Barbosa.

A manifestação

Cafeicultores, trabalhadores rurais e lideranças de movimentos ligados à cafeicultura, além de muitos prefeitos e vereadores de cidades vizinhas, estiveram neste distrito do município de Manhuaçu reivindicando a redução de impostos de insumos, a garantia de pagamento de um preço justo pelo café e a negociação de dívidas da agricultura familiar junto a bancos. Eles alegam que o baixo preço de comercialização do café não cobre os custos da produção, ainda mais na região das montanhas, onde o segmento é empregador de grande quantidade de mão de obra. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o preço do café está 24% mais baixo. O preço mínimo definido pelo governo federal não atende a realidade regional.

Os cafeicultores também exigem a prorrogação dos prazos para pagamento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Eles querem isenção do pagamento pelos próximos dois anos.

Da mesma forma que ocorreu na semana passada, esta manifestação também estava marcada para começar às 9 horas da manhã. Com uma mobilização no pátio de um posto de gasolina, os manifestantes ficaram aguardando a vinda de um representante do Ministério da Agricultura. Porém, contrariando a determinação dos organizadores e após a chegada de um caminhão carregado com aproximadamente 300 sacas de café por volta das 10 horas, as pessoas pegaram as sacas do produto e fecharam todas as quatro saídas do trevo localizado neste entroncamento.

A manifestação contou com o apoio de diversos setores da economia da região, além de governos municipais, já que muitos prefeitos decretaram feriado em suas cidades para que a população pudesse se dirigir à Realeza. A economia dos municípios é muito dependente do café e os baixos preços refletem em todos os setores produtivos.

“São João e a nossa região de Manhuaçu, provavelmente tem 90% da moeda que circula vinda dessa economia cafeeira. E por isso achamos justa esta manifestação e precisamos de uma política séria do Governo. Uma política agrícola consistente. Onde está o preço mínimo do café? Onde está o escritório de compra do café do Governo na região? Está faltando uma política agrícola séria e é por isso que devemos estar juntos, reivindicando melhorias de preço do nosso produto. O mínimo que poderíamos fazer era decretar feriado neste dia. Não apenas eu, mas também os prefeitos das cidades de Santa Margarida, Orizânia, Simonésia. Enfim, os municípios da região estão unidos nesta força porque entendemos que é a hora de gritar”, disse o prefeito da cidade de São João do Manhuaçu, João Carolino, que estava presente nesta manifestação.

Impasse para a liberação da pista

Os organizadores do protesto decidiram acabar com a paralisação por volta das 13h30, após receberem a informação das autoridades que poderia ser utilizada a força para a retirada dos manifestantes das duas rodovias. Porém, muitos produtores e sindicalistas mais exaltados decidiram permanecer no entroncamento.

“A partir do momento que eles fecham as rodovias, eles são responsáveis por qualquer tipo de acidente. Nós tivemos há três dias a morte de doze pessoas em desastres provocados pelas paralisações. Porque não tem segurança e ocuparam as vias com os carros se acumulando. A rodovia é um local de alta velocidade e a chance de acontecer uma tragédia existe e a gente vai trabalhar para evitar este tipo de situação”, explicou Rudson Cordeiro Correa, chefe de Operações da 6a Delegacia da PRF de Governador Valadares.

A organização desta manifestação havia programado apenas uma mobilização enquanto aguardavam o representante do Governo Federal. Apesar do sentimento comum de abandono por parte das autoridades para com a cafeicultura, houve divergências entre os próprios organizadores sobre a condução do protesto, com um grupo partindo para a paralização das duas estradas federais enquanto outro grupo evitava a radicalização.

“Nós temos que realmente fazer alguma coisa para alertar o Governo Federal, porque o preço hoje de R$ 250 não cobre os custos da saca de café. Esta manifestação é por um motivo justo e necessário. Mas com relação ao fechamento da rodovia é iniciativa de algumas pessoas, que eu, particularmente acho que não convém, porque prejudica tantas pessoas que estão viajando ou precisam viajar. Agora, reivindicar preço do café, isso nós temos que manifestar, porque infelizmente o Governo só ouve desta maneira”, disse o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Manhuaçu, Lino da Costa e Silva.

Quando os manifestantes bloquearam as pistas, restou aos diretores dos sindicatos apoiarem o movimento. Este apoio perdurou até o início da tarde.

Os organizadores tentaram sem sucesso a desobstrução da rodovia. Como não conseguiram fazer com que os mais exaltados acabassem com a paralisação, eles desligaram o som e se retiraram do local. A partir deste momento, por três horas as autoridades tentaram convencer os manifestantes de retornarem para as suas casas. Como o impasse continuou, a tropa de choque teve que agir para liberar as pistas. Com informações Tempo +.

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Por: Click Carangola | Sugestões de pauta: clickcarangola@gmail.com

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